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Unesp Vestibular de 2007 - PROVAS ESPECIFICAS 2° SEMESTRE - Português

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VESTIBULAR MEIO DE ANO 2007 PROVA DE L NGUA PORTUGUESA CADERNO DE QUEST ES INSTRU ES 1. CONFERIR SEU NOME E N MERO DE INSCRI O NA CAPA DESTE CADERNO. 2. ASSINAR COM CANETA DE TINTA AZUL OU PRETA A CAPA DO SEU CADERNO DE RESPOSTAS, NO LOCAL INDICADO. 3. ESTA PROVA CONT M 10 QUEST ES E UM TEMA DE REDA O E TER DURA O DE 4 HORAS. 4. O CANDIDATO SOMENTE PODER ENTREGAR O CADERNO DE RESPOSTAS E SAIR DO PR DIO DEPOIS DE TRANSCORRIDAS 2 HORAS, CONTADAS A PARTIR DO IN CIO DA PROVA. 5. AO SAIR, O CANDIDATO LEVAR ESTE CADERNO. INSTRU O: As quest es de n meros 04 a 07 tomam por base o texto A velha contrabandista, de Stanislaw Ponte Preta, pseud nimo do escritor brasileiro S rgio Porto (1923-1968). L NGUA PORTUGUESA INSTRU O: As quest es de n meros 01 a 03 tomam por base um trecho da obra Noite na taverna, do escritor rom ntico lvares de Azevedo (1831-1852). A velha contrabandista Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atr s da lambreta. O pessoal da Alf ndega tudo malandro velho come ou a desconfiar da velhinha. Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atr s, o fiscal da Alf ndega mandou ela parar. A velhinha parou e ent o o fiscal perguntou assim pra ela: Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco a atr s. Que diabo a senhora leva nesse saco? A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odont logo, e respondeu: areia! A quem riu foi o fiscal. Achou que n o era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e l s tinha areia. Muito encabulado, ordenou velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atr s. Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atr s, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um m s seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia. Diz que foi a que o fiscal se chateou: Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alf ndega com 40 anos de servi o. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ningu m me tira da cabe a que a senhora contrabandista. Mas no saco s tem areia! insistiu a velhinha. E j ia tocar a lambreta, quando o fiscal prop s: Eu prometo senhora que deixo a senhora passar. N o dou parte, n o apreendo, n o conto nada a ningu m, mas a senhora vai me dizer: qual o contrabando que a senhora est passando por aqui todos os dias? O senhor promete que n o esp ia ? quis saber a velhinha. Juro respondeu o fiscal. lambreta. Um velho Por que empalideces, Solfieri? A vida assim. Tu o sabes como eu o sei. O que o homem? a escuma que ferve hoje na torrente e amanh desmaia, alguma coisa de louco e movedi o como a vaga, de fatal como o sepulcro! O que a exist ncia? Na mocidade o caleidosc pio das ilus es, vive-se ent o da seiva do futuro. Depois envelhecemos: quando chegamos aos trinta anos e o suor das agonias nos grisalhou os cabelos antes do tempo e murcharam, como nossas faces, as nossas esperan as, oscilamos entre o passado vision rio e este amanh do velho, gelado e ermo despido como um cad ver que se banha antes de dar sepultura! Mis ria! Loucura! Muito bem! Mis ria e loucura! interrompeu uma voz. O homem que falara era um velho. A fronte se lhe descalvara, e longas e fundas rugas a sulcavam: eram as ondas que o vento da velhice lhe cavara no mar da vida... Sob espessas sobrancelhas grisalhas lampejavam-lhe olhos pardos e um espesso bigode lhe cobria parte dos l bios. Trazia um gib o negro e roto e um manto desbotado, da mesma cor, lhe ca a dos ombros. Quem s, velho? perguntou o narrador. Passava l fora, a chuva ca a a c ntaros, a tempestade era medonha, entrei. Boa noite, senhores! Se houver mais uma ta a na vossa mesa, enchei-a at s bordas e beberei convosco. Quem s? Quem sou? Na verdade fora dif cil diz -lo: corri muito mundo, a cada instante mudando de nome e de vida. (...) Quem eu sou? Fui um poeta aos vinte anos, um libertino aos trinta sou um vagabundo sem p tria e sem cren as aos quarenta. 01. No fragmento de lvares de Azevedo, cruzam-se as imagens das fases da exist ncia humana e da natureza do oceano. Tendo em vista essa id ia, explicite por que raz o o ser humano se assemelha, do ponto de vista do enunciador, escuma que ferve hoje na torrente e amanh desmaia. 02. A descri o do velho, no texto, evoca a figura do poeta, que ele foi aos vinte anos e que se confunde s vezes com a pr pria identidade de lvares de Azevedo, coincidentemente morto aos vinte anos. Sabendo que muitos escritores rom nticos viveram pouco e tiveram vida bo mia, associe a situa o do velho id ia de morte, nos poetas rom nticos, apontando tr s palavras do texto cujo sentido comprove tal rela o. (Primo Altamirando e Elas.) 04. Muito pr xima do texto oral, a cr nica um g nero que aproveita alguns recursos t picos da fala, como a repeti o, para estabelecer a coes o textual. No primeiro par grafo, por exemplo, a palavra velhinha repete-se duas vezes; lambreta , tr s vezes. Pensando ainda nos modos de relacionar as palavras, na frase, especifique outra forma de manter a coes o, empregada tamb m no primeiro par grafo do texto. Em seguida, explique a diferen a de fun o entre o termo a , ocorrente no terceiro par grafo, e o mesmo voc bulo, no sexto par grafo. 03. A linguagem do fragmento, a qual reflete o estilo rom ntico, caracteriza-se por um l xico t pico, s vezes por um tratamento em segunda pessoa e por uma sintaxe peculiar. Com base nessa reflex o, aponte um segmento de Um velho em que h invers o na ordem sujeito-verbo. Reescreva o seguinte trecho, passando o verbo que est no imperativo para a terceira pessoa do plural e fazendo as adequa es de concord ncia necess rias: Se houver mais uma ta a na vossa mesa, enchei-a at s bordas e beberei convosco. UNESP/L nguaPortuguesa 2 05. O texto explora bastante um estilo coloquial, informal, marcado por um uso deliberado de g ria e express es distensas (tudo malandro velho, muamba, manjo, pra burro, diz que era, pra ela, chateou). Entretanto, em certas passagens, o enunciador emprega um vocabul rio mais formal, imprevis vel e em contraste com as caracter sticas gerais do texto. Admitindo essas premissas, identifique um substantivo, usado no texto, que representa essa quebra de expectativa, em virtude de seu car ter mais formal e tenso. Al m disso, comente por que o tempo pret rito mais-que-perfeito do verbo adquirir tamb m reflete um emprego inusitado, quando considerado o todo textual. D diva impens vel nos semblantes fechados, nas felpudas redingotes, nos chap us autorit rios, nas barbas de mil nios. Sigo, seco e s , atravessando a floresta de velhos. (Boitempo.) 08. Usando as rimas com parcim nia, rompendo com os padr es acad micos e ignorando os comp ndios de metrifica o, Carlos Drummond de Andrade consegue produzir uma poesia vigorosa, reconhecida na literatura brasileira. Refletindo sobre tais observa es, identifique as caracter sticas do poema Os velhos, quanto ao emprego de rimas e ao esquema m trico dos versos. A seguir, nomeie a figura de harmonia, ocorrente nos dois ltimos versos do poema, explicando em que ela consiste. 06. Entre outras caracter sticas, a assimila o da contribui o milion ria de todos os erros aplica-se j ao ide rio renovador do Modernismo, no in cio do s culo passado. Tendo em vista que o texto de Stanislaw Ponte Preta se constr i com apoio em variedades ling sticas populares, aponte uma palavra, usada no texto, que pode significar o aproveitamento dos erros percebidos na fala popular. Na seq ncia, comente o car ter inesperado do uso desse erro , examinando o contexto em que ele est inserido. 09. No poema, o isolamento dos velhos leva o eu-poem tico a pintar um quadro invertido, se considerada a habitual situa o dos idosos, na realidade: n o s o eles os desprezados, os ignorados, os esquecidos, os abandonados mas o menino, o n o-velho. Com base nessa id ia, comente a solu o cogitada pelo eu-poem tico para entrar no mundo dos velhos. 07. Ainda que o discurso direto ocupe boa parte de A velha contrabandista, o discurso indireto tamb m pode ser encontrado, algumas vezes. Examinando com cuidado o texto, transcreva um segmento em que se utiliza, na mesma ora o, o discurso indireto mesclado com o direto o chamado discurso indireto livre. Explicite, ainda, o efeito de sentido que essa mistura provoca, nessa passagem. 10. Atendo-se linguagem do poema, compare-o com o texto de Stanislaw Ponte Preta, que foi a base para as quest es de n meros 04 a 07, e explicite que valor pode ser atribu do ao termo l , presente no oitavo verso de Os velhos. Comente, tamb m, qual a diferen a entre esse termo e o adv rbio l , do sexto par grafo de A velha contrabandista. INSTRU O: As quest es de n meros 08 a 10 tomam por base o texto Os velhos, do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Os velhos Todos nasceram velhos desconfio. Em casas mais velhas que a velhice, em ruas que existiram sempre sempre! assim como est o hoje soturnas e paradas e indel veis mesmo no desmoronar do Ju zo Final. Os mais velhos t m 100, 200 anos e l se perde a conta. Os mais novos dos novos, n o menos de 50 enorm idade. Nenhum olha para mim. A velhice o pro be. Quem autorizou existirem meninos neste largo municipal? Quem infringiu a lei da eternidade que n o permite recome ar a vida? Ignoram-me. N o sou. Tenho vontade de ser tamb m um velho desde sempre. Assim conversar o comigo sobre coisas seladas em cofre de subentendidos a conversa infind vel de monoss labos, resmungos, tosse conclusiva. Nem me v em passar. N o me d o confian a. Confian a! Confian a! 3 UNESP/L nguaPortuguesa dos 70, 80, 90 anos. Com a redu o combinada da natalidade e o aumento da longevidade, at pa ses como o Brasil, em que predominavam os jovens, t m mais idosos. A diferen a que, ao contr rio dos europeus, dos japoneses, envelhecemos sem ter garantido os direitos b sicos, fundamentais, dos rec m-nascidos, das crian as, dos adolescentes, dos jovens e dos maduros. Muito menos dos idosos! O Estatuto do Idoso um PAC [Programa de Acelera o do Crescimento, proposto pelo governo federal] da Terceira Idade . Define muito bem o que os outros v o fazer pelos idosos, sem a contrapartida de a es governamentais que viabilizem as propostas de benef cios para os mais velhos. perfeitamente vi vel melhorar as condi es de vida daqueles que mereceriam mais conforto, mais seguran a, mais tranq ilidade e, acima de tudo, mais respeito e dignidade, na velhice. (...) Todos n s devemos modificar a forma de avaliar as pessoas, como elementos de produ o e de consumo, somente. Governo algum ensinar filhos a respeitarem pais idosos, em lugar de consider -los um estorvo, pela doen a ou pela car ncia financeira. Essa li o de casa de cada um de n s, brasileiros, pois todos que conseguirem se livrar de serem v timas da viol ncia viver o e chegar o l . REDA O INSTRU O: Leia atentamente os seguintes textos. Velho a vovozinha Ci a Vallerio Apenas os cabelos brancos anunciam a idade do corretor de seguros Ivan Schwarz. No meio da turma de corrida, que se encontra s 6h30 toda semana no Ibirapuera, ele o mais velho, o que mais corre e est sempre bem-humorado. Aos 68 anos, s o poucos aqueles que conseguem acompanhar seu ritmo no treino. Ele participa de provas e, ainda, anda de bicicleta no fim de semana. Ivan exemplifica muito bem a gera o dos sessent es que, mesmo com as rugas e cabelos brancos, entram nessa fase com um pique admir vel e n o lembram em nada os idosos de d cadas atr s. O endocrinologista Wilmar Jorge Accursio, presidente da Sociedade Brasileira de Antienvelhecimento, lembra que, no passado (n o muito distante), envelhecer com dignidade era n o fazer coc nas cal as , ou seja, manter sob controle atos fisiol gicos, preservando a autonomia. Hoje, a preocupa o muito mais ampla , avalia Accursio. Muitos se preocupam em manter boa apar ncia f sica, e buscam levar uma vida saud vel. uma mudan a de comportamento mundial, embalada pela tecnologia e informa o. D para entender o porqu . O mundo est envelhecendo. O Brasil, por exemplo, vem mudando a imagem de pa s jovem. Entre 1980 e 2005, o n mero de habitantes com mais de 60 anos cresceu 126%! Aumentou tamb m a expectativa de vida entre homens e mulheres. Hoje, a m dia para ambos os sexos de 70,3 anos, segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econ mica Aplicada). Em duas d cadas, houve ganho de 7 anos e meio. (...) Segundo a psicanalista Dorli Kamkhagi, que tamb m geront loga e, portanto, estuda os fen menos psicol gicos e sociais relacionados ao envelhecimento, houve um ganho de pelo menos 10 anos na idade real. Uma mulher de 60, por exemplo, parece ter 50 hoje. At a m dia est atenta a essas transforma es, seja por meio de propagandas ou programas de TV. Quando algumas portas pareciam se fechar, outras foram abertas. Hoje, homens e mulheres (principalmente) maduros s o retratados na televis o como objeto de desejo. E uma boa parcela est resgatando a dignidade dessa fase da vida. Dorli observa, por m, que importante estar atento a todo o eldorado da ind stria do antienvelhecimento, que oferece um arsenal de tratamentos. Lembra o quanto importante n o sucumbir aos modelos ditatoriais de beleza neste caso, na busca da juventude. Para ela, quando se constr i uma vida saud vel, aceitam-se melhor algumas perdas inerentes idade. Afinal, existe beleza em cada fase, e n o necess rio esconder as rugas para ser feliz. (Folha de S.Paulo, 27.02.2007.) Proposta de Reda o Desde os primeiros textos da Prova de L ngua Portuguesa, est em jogo o tema do idoso, sob diferentes abordagens: da pauta negativa e fatalista do mal do s culo , retratada em lvares de Azevedo, pitoresca representa o da velhinha contrabandista de Stanislaw Ponte Preta, passando pela incompreens o do menino com rela o ao mundo isolado dos velhos, em Drummond. Seja qual for a tica, o problema dos idosos exige uma tomada de posi o, quer no sentido de fazer garantir seus direitos de dignidade, quer de lutar para a instala o de uma cultura de respeito aos velhos. Baseando-se em sua experi ncia, nos textos liter rios mencionados e nos dois textos jornal sticos, transcritos nesta parte, escreva uma reda o, no g nero dissertativo, sobre o seguinte tema: A QUEST O DO IDOSO NO BRASIL (O Estado de S.Paulo, 06.05.2006.) Melhor ou pior idade Maria In s Dolci Voc se olha no espelho, e percebe que o tempo passou muito mais rapidamente do que esperava aos 13, 14 anos, com pressa de completar 18 anos, para ganhar a chave de casa, a habilita o de motorista e o direito de ir ao cinema em filmes para adultos . claro que essa realidade mudou para os nascidos a partir dos anos 1970, mas todos n s temos a impress o de que nunca envelheceremos, t o longe estamos, na inf ncia e adolesc ncia, UNESP/L nguaPortuguesa . 4

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